Presos em casa...
Corria
o ano de 2005 quando, por intermédio da Team Silent, a Konami lançou
mais um título da sua aclamada série de survival horror, Silent
Hill. Este novo jogo, apelidado de “The Room”, não se limitou a
ser o somente o quarto capítulo, mas antes tentou enveredar por
novos, e por vezes tortuosos caminhos, modificando uma fórmula
ganhadora, mas condenada, como tudo na
vida, ao desgaste pelo
seu constante uso.
Lançado para a PS2, X-Box e PC, Silent Hill 4 mostrou-se desde já
distinto pela história. O jogo, ao contrário o que seria sugerido
pelo título, não se passa em Silent Hill. Antes, a localização
escolhida é a da
diminuta cidade de South Ashfield. No entanto, e para não fugir à
regra, a história foge
para o
sinistro e perturbador.
O protagonista é um jovem, de nome Henry,
que sem saber como se vê preso no interior do seu próprio
apartamento. Correntes dispostas na porta e janelas bem fechadas
impedem não apenas a sua fuga, mas também, qualquer contacto com o
exterior. Com a
excepcção do rádio, que volta e meia falha e do olho de boi, Henry
não tem forma de saber nada do que se passa para lá da sua
habitação. Eis
que, após um forte
barulho, surge um
colossal buraco na parede da casa de banho...Henry decide, sem nada a
perder, explorar. Será através desse mesmíssimo buraco que o jovem
irá parar ás mais diferentes zonas de South Ashfield. Lá terá que
desvendar o motivo do seu aprisionamento e, à falta de melhores
palavras, sobreviver.
Pelo
caminho, Henry irá contar com a ajuda de outras pessoas, com
destaque para a sua inocente vizinha, Eileen Gavin. A rapariga
contará com um papel semelhante ao da filha do Presidente no jogo
concorrente, Resident Evil 4. Todavia, creio que Eileen (que não
pode morrer, mas cujo dano, quanto maior for, irá influenciar o
final do jogo) é muito mais útil, no confronto com as criaturas que
nos atacarão no decurso do jogo.
SH4 dá uma maior
ênfase na combatividade da personagem principal. Henry está munido
de um “Charge attack” que irá tirar mais energia o que um ataque
normal. Á sua disposição estarão, também, um largo arsenal de
armas. Temos o já tradicional cano de ferro e a pistola. De
salientar que o primeiro é, de longe, a arma mais útil que teremos
para lidarmos com grande parte da nossa oposição.
SH4 tem uns novos
inimigos, para além das criaturas tradicionais. Ora são,
precisamente os novos tipos de inimigos que se tornaram no nosso
maior empecilho. Ao contrário dos outros jogos da série até aqui,
SH4 gira em torno de fantasmas. Estes podem surgir em qualquer lado,
a qualquer altura e , a mera presença provoca-nos dano. Estes seres
não se limitam a South Ashfield, mas fazem-se sentir dentro do
próprio apartamento (o exorcismo dos fantasmas presentes em casa
constitui outro dos pontos fundamentais para sabermos qual o fim que
nos será atribuído, aquando da conclusão do jogo). Quando a fuga
falha, o melhor que teremos a fazer é usarmos os 4 novos itens. O
medalhão afasta os espíritos, no entanto, irá quebrar com o uso. A
vela, uma vez acesa, exorciza-os e a espada prende-os. (a última até
pode ser reutilizada, mas implicaria soltar o inimigo preso, para
isso)
Por último, temos uma arma, com duas balas espirituais, que
aniquilam, completamente, qualquer fantasma que se cruze no nosso
caminho. Henry, contudo, terá que optar bem pelo equipamento que
deseja levar consigo. Para além das armas, Henry terá kits de
primeiros socorros que irão restaurar qualquer energia que ele tenha
perdido. O espaço para guardar esses itens é curto, pelo que o baú,
existente no apartamento, será bastante útil para guardarmos o
excedente. Junto ao baú teremos o diário de Henry no qual se irá
fazer, maioritariamente, o save do jogo. A acção gira, portanto, e
como já se devem ter apercebido, entre o apartamento e as diferentes
localizações da cidade.
Essa mesma acção passa, nesses momentos
de transição, de uma perspectiva de primeira pessoa para terceira e
vice-versa. Isto, juntamente com os já referidos fantasmas, traz ao
jogo uma originalidade e uma frescura que já se notava correr riscos
de faltar, na série. Graficamente, SH4 mantém a atmosfera pesada e
distorcida, alimentada por uma banda sonora (ou por vezes ausência
dela), que ajudam a criar um clima de tensão e desassossego do qual
os survival horrors vivem. Todavia, nem tudo são rosas. O jogo peca
por ter tido a componente puzzle basicamente eliminada. Os puzzles
existentes são escassos e demasiado óbvios para o jogador.
Por sua
vez, a temática fantasmagórica, a própria ideia do quarto, de tão
diferente que era, afastou inúmeros aficionados da série e levou a
Konami a tentar restaurar o status quo daqui em diante. Como
Castlevania 2 ou The Adventure of Link, antes dele, também Silent
Hill 4 foi arrasado pelos fãs devido ao distanciamento que provocou
em relação à mecânica original. A meu ver Silent Hill 4 está
longe de ser um jogo perfeito ou até o melhor da série, mas tem os
seus méritos e visto de uma perspectiva “stand alone”
constituirá uma excelente experiência para fãs do género.
Escrito por Ivo Silva
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