A origem da personagem que se tornaria numa das mais veneradas de sempre no Universo Marvel não poderia ser mais caricata, pois é uma consequência directa da intensa batalha jurídica travada entre a National Comics (DC) e a Fawcett Comics.

Aparentemente, a personagem da Fawcett, Billy Batson, a.k.a Captain Marvel, era demasiado similar em aparência e poderes com a personagem que a par do Batman e da Wonder Woman era o porta-estandarte da National Comics.




Falo, como devem decerto imaginar, do Superman. 

O processo jurídico depressa se tornaria não só num dos mais famosos da história (envolvendo comics), mas também num dos mais longos e custosos financeiramente falando. 

Com a Golden Age das comics a aproximar-se do seu zénite e a popularidade dos super-heróis em queda, a Fawcett (que até venceu o primeiro processo) sem fundos para continuar a luta nos tribunais, decide abdicar da mesma e deixa de publicar o Captain Marvel. 

Com a Fawcett a fechar portas como consequência disso, os direitos à trademark do nome Captain Marvel ficam vagos, uma vez que a National Comics limitou-se a comprar a personagem da Fawcett e não reservou os direitos para o uso exclusivo do nome. 

Isso deu a oportunidade a outras companhias de comics de estabelecerem os seus próprios Captain Marvels. 


 


A M.F.Enterprises foi a primeira a publicar uma comic intitulada Captain Marvel em 1966. 

A sua personagem era a de um andróide enviado por uma raça alienígena para a Terra.

Capaz de disparar raios pelos olhos, de voar graças às suas botas a jato e com a habilidade de separar as diferentes partes do seu corpo, o Captain Marvel da M.F.E foi um retundante fracasso, não passando do ano seguinte.

Este Captain Marvel foi uma criação de Carl Burgos, responsável por um dos heróis mais bem sucedidos da Timelty Comics nos anos 40 e 50, o igualmente andróide Human Torch.

Foi precisamente em 1967, com a Marvel Age da Marvel Comics em plena fase inicial que Stan Lee e Gene Colan criaram o primeiro Captain Marvel da editora. 


 


A personagem faria a sua estréia nas páginas de Marvel Super-Heroes #12 (Vol 1) e era bastante distinta das versões da Fawcett e da M.F.E.

Este Captain era mesmo um capitão das forças armadas, mas não era de todo terrestre, mas antes um alien, parte do poderoso Império Kree.

Mar-Vell (sim, era esse o seu verdadeiro nome) foi enviado para a Terra como parte de uma armada sob o comando do General Yon-Rogg (que se tornaria num dos seus maiores e odiados adversários). 

Sendo um Kree de pele rosada (os Kree azuis eram a classe dominante, mas minoritária do Império), cabia a Mar-Vell infiltrar-se no programa espacial terrestre e descobrir em que ponto se encontrava a tecnologia terráquea.

Assumindo a identidade de um cientista recentemente falecido (um tal de Walter Lawson), Mar-Vell vai ser bem sucedido na sua infiltração nas instalações da NASA.

Será como Lawson que Mar-Vell irá conhecer uma das maiores paixões da sua vida, Carol Danvers, também ela uma capitã mas da Força Aérea dos E.U.A, destacada para servir como chefe de segurança do projecto espacial. 


 


Para além de Carol, Mar-Vell tinha uma outra grande paixão (esta talvez ainda maior) na figura da enfermeira Kree, Una. 

O problema é que Yon-Rogg também tinha sentimentos por Una e por essa razão irá fazer de tudo ao seu alcance para tirar Mar-Vell do seu caminho. 

A primeira dessas tentativas vai consistir na activação de um sentinela Kree, o Sentry #459 (robots deixados pelo Kree em certos planetas de importância). 

Essa batalha terá lugar nas páginas do primeiro issue do Captain Marvel.

Apresentando-se no seu fato militar Kree, verde e branco, o Captain Mar-Vell vai ser visto pelos terráqueos como mais um dos muitos super-heróis da emergente comunidade heróica.

Curiosamente, vão ser esses mesmos terráqueos que, dizendo mal o nome de Mar-Vell, o vão baptizar como Captain Marvel. 


 


A Marvel Comics tinha nesta altura adquirido a trademark do nome e a manteria desde que cumprisse um simples requisito. 

De dois em dois anos tinha que publicar pelo menos um comic com o nome de título Captain Marvel, sob pena do mesmo cair em domínio público.

Este seria o principal motivo para a DC, quando finalmente comprou os direitos para publicar o Captain Marvel da Fawcett, não ter criado uma comic intitulada Captain Marvel (criou antes uma chamada Shazam, embora Billy mantivesse o direito a usar o nome de Captain Marvel no interior das páginas das ditas comics). 


 


Este Mar-Vell, que depressa descobriu os intentos mais sinistros que os Kree tinham para o planeta Terra, era muito diferente daquilo que hoje imaginamos como sendo um Captain Marvel. 

Para além do uniforme, Mar-Vell tinha que tomar um soro para sobreviver sem o seu elmo na atmosfera terrestre, voava com o recurso a jactos e tinha no Uni-Beam a sua principal arma de ataque. 

Era super-forte e resistente para os padrões humanos, mas não o era em relação aos restantes Kree (Ronan, por exemplo, era muito mais forte que ele). 


 


Dentro de pouco tempo, Mar-Vell, que começou como espião, passa a protector da Humanidade, revoltando-se contra os seus superiores. 

Um acto que terá como consequência a sua quase execução e a morte de Una (em  Captain Marvel #10-11, Vol 1, de 1969). 


 


Exilado no espaço sideral por Yon-Rogg, Mar-Vell terá o que aparentava ser um encontro com uma entidade cósmica que lhe vai ampliar consideravelmente os poderes. 

Mar-Vell passa a ser capaz de voar por ele próprio e a sua força, velocidade e resistência são agora muito maiores que antes. 

Para além disso, ele tem agora a habilidade de criar ilusões mentais e consegue teleportar-se (poderes rapidamente esquecidos). 

A suposta entidade, de nome ZO, nada mais era que um alto dirigente Kree, Zarek, em disfarce.

Este conspirava com Ronan para derrubar o governante do Império, o Supermor.

Ambos pretendiam usar o Kree rebelde como uma arma contra o governante supremo.

Contudo, o tiro sai-lhes pela culatra, pois o honrado Mar-Vell vai recusar trair a sua pátria e o Supermor.


 


A sua recompensa por ajudar a frustrar os planos dos dois usurpadores vai ser um novo uniforme (azul e vermelho) e as poderosas Nega Bands (Captain Marvel #16, Vol 1, de 1969). 

Com o Supermor a colocar os seus planos de dominação da Terra de parte, por respeito à bravura demonstrada por Mar-Vell, o nosso herói será enviado de volta para o pequeno planeta azul, com a tarefa de capturar o Yon-Rogg (um aliado de Ronan e Zarek).

Brevemente aprisionado na Negative Zone (Captain Marvel #17, Vol 1, de 1969), Mar-Vell estabelece uma parceria simbiótica com Rick Jones (na época o novo Bucky do Captain America), na qual eles trocam vezes entre estar na Terra e na Negative Zone ao colidirem as Nega Bands. 


 


Mar-Vell vingar-se-ia de Yon-Rogg e estaria brevemente sujeito a uma limitação dos seus poderes durante a noite (Mar-Vell ficava mais forte durante o dia), antes das suas histórias serem finalmente entregues ao grande mestre Jim Starlin. 

Este irá revitalizar uma personagem cujas vendas e popularidade estavam em queda. 

As edições de Captain Marvel #25 a 33, que se estenderam de 1973 a 1974, relatam a transformação de Mar-Vell de um mero herói a ícone. 

Sob a batuta de Starlin, Mar-Vell (e Rick Jones) irá enfrentar antigos adversários, na figura dos Skrulls, mas também novos e perigosos oponentes como o Controller e, sobretudo Thanos.

Este último tornar-se-ia no derradeiro inimigo de Mar-Vell e obrigaria o nosso herói a passar por uma última metamorfose no que a poderes diz respeito. 


 


Para conseguir derrotar a grande ameaça que era Thanos, Mar-Vell seria testado pelo deus cósmico Eon, enfrentando uma versão sombria de si mesmo, para conseguir atingir a consciência cósmica. 

Uno com as energias do universo (qual Jedi), Mar-Vell verá o seu cabelo tornar-se louro, ficará ainda mais poderoso, sendo agora capaz de disparar rajadas de puro poder cósmico das mãos. 

Para além disso, Mar-Vell passa a deixar um rasto de luz cintilante quando voa e mais importante que tudo isso assume o manto de protector do universo. 


 


Será graças a essas novas habilidades que Mar-Vell irá conseguir bater Thanos, impedindo o Mad Titan de manter o nível de omnisciência que havia obtido através do Cosmic Cube. 
Após essa épica batalha (na qual participaram também os Eternals de Titan, Drax e os Avengers), Mar-Vell será afectado, durante uma batalha com o vilão Nitro, por um gás mortífero, o Compound Thirteen (em Captain Marvel #34, Vol 1, de 1974). 


 


O gás irá provocar a eventual morte de Mar-Vell ao dar-lhe um cancro para o qual nem as mentes mais brilhantes do universo Marvel conseguiram encontrar cura. 

Tal história seria contada naquela que foi a primeira graphic novel da Marvel Comics e seria publicada em 1982. 


 


Contudo, e antes dessa fatídica data de 1982, Mar-Vell conheceria o último amor da sua vida na Eternal de Titan, Elysus. 

Dela terá dois filhos (Genis e Phyla) que nasceriam após a sua morte, via inseminação artificial. 

Seria revelado numa retcom em 2000 que Mar-Vell teria tido um breve relacionamento com a princessa Skrull Anelle. 

Daí resultará o nascimento de Dorrek VIII (a.k.a Ted Altman), que cresceria para se tornar no heróico Hulking (membro dos Young Avengers). 

Ele ainda se separaria de Rick Jones (que voltaria às páginas do Hulk) e da maldição de ter que alternar entre a Negative Zone e a Terra. 
A comic de Mar-Vell contaria com um total de 62 números, com o último a ser publicado em 1979. 

Nesta run de 12 anos, Mar-Vell defrontaria diversos adversários para além dos referidos acima. 

Entre os que mais se destacaram contam-se: Megaton, Stranger, Grim Reaper, Basilisk, Stellarax, Isaac Prime, Mercurio e os Aakon (outra raça rival dos Kree). 


 


As aventuras da personagem transitariam para a comic Marvel Spotlight (Vol 2) logo de seguida. 

Uma publicação que o Captain Marvel partilharia com outras personagens cósmicas, nomeadamente Starlord e o Captain Universe original. 
O Captain Marvel faria ainda inúmeras aparições noutras comics, com destaque para as suas aventuras com Adam Warlock (que o colocaria no caminho de um regressado Thanos), Spider-Man, Thing e os Avengers (contra Korvac e durante a Kree/Skrull War).  


 


A personagem contaria ainda com duas mini-séries. 

A primeira, Life of Captain Marvel é de 1985 (com 5 números), ao passo que a segunda, Untold Legend of Captain Marvel é de 1997 (com 3 números). 

Mar-Vell seria o primeiro e até à data único herói a receber o título de Avenger post-mortem. 

Um atestado nesta época, de grande valor para uma personagem que era adorada pelos amigos e respeitada pelos adversários (os Skrulls, inimigos jurados dos Kree, vão presenteá-lo com a sua medalha de bravura).

A adoração na Terra chegou ao ponto de haver um culto dedicado à sua persona, na chamada Church of Hala (Ms Marvel #48-50, Vol 2, de 2010).





Mas como estámos a falar de comics, volta e meia Mar-Vell regressaria ao mundo dos vivos. 

De forma temporária e rápida é certo. 

O seu espírito foi recrutado para servir na Legion of the Unliving por duas vezes. 

A primeira em 1987 (Avengers Annual #16, Vol 1) e a segunda em 1998 (Avengers #11, Vol 3). 

Em ambas as vezes foi para se degladiar com os seus antigos aliados, os Avengers. 

O seu corpo seria ainda usado uma segunda vez em 1998 pelo vilão Syphonn contra Adam Warlock e Genis (Warlock #1-2, Vol 4). 

Fora essas aparições "malignas" Mar-Vell resurgirá mais benevolente em certas ocasiões. 

Em 1992 ajuda o Silver Surfer a escapar do reino da morte (Silver Surfer #63, Vol 2), 18 anos mais tarde é ressuscitado durante a Chaos War, juntamente com outros Avengers falecidos (é morto pelo Grim Reaper) e durante o recente AVX são os Kree quem lhe devolvem a vida (usando o M'Kraan Crystal para o efeito) de forma a que Mar-Vell os salve da iminente chegada da Phoenix Force. 


 


Uma vez mais, e numa variante verde e branca do seu segundo uniforme, Mar-Vell dá a vida para salvar Hala da destrutiva entidade cósmica. 
As habilidades e aparência de Mar-Vell seriam duplicadas inúmeras vezes. 

Mais de 98 Skrulls procuraram duplicar a sua forma, entre eles o Super-Skrull. 

A maioria deles falhou por estarem também a tentar emular a mente do herói Kree. 

Dos que conseguiram dois deles tornar-se-iam heróis, desafiando o seu próprio povo em prole da Terra, ao passo que um terceiro se tornaria insano, sendo usado pela Mystique contra Carol Danvers (a.k.a Ms Marvel).


 


De entre os dois mais heróicos apenas seria dado nome a um deles. 

Khn'nr vai surgir em plena Civil War (Civil War: The Return, de 2007), tendo sido encontrado perdido na Negative Zone pelo Avenger Sentry. 

Não tomando partido por nenhuma das partes, Khn'nr, que todos acreditavam (até mesmo o próprio) tratar-se do verdadeiro Mar-Vell, irá trabalhar com os Mighty Avengers e a Order durante a época da Initiative. 

Com o advento da Secret Invasion dos Skrulls na Terra, Khn'nr irá descobrir a verdade sobre as suas origens, durante uma violenta contenda com os Thunderbolts de Norman Osborn. 

Desejando mais que tudo ser um herói, Khn'nr decide seguir o exemplo da mente que tinha estado a emular e vira-se contra os Skrulls, atacando sozinho a armada principal. 

Khn'nr morre como um verdadeiro herói, mas não sem antes entregar a sua versão das Nega-Bands (de fabrico Skrull) ao Kree Noh-Varr, a.k.a Marvel Boy. 





Existem ainda muitas versões alternativas de Mar-Vell. 

Entre elas destaco as seguintes: William Mar-Vell (uma união entre o guerreiro Kree e o herói da Fawcett), Lord Mar-Vell (o governante demoníaco do Canververse e líder dos Revengers) e o pequeno infante Mar-Vell da Earth X (filho de Ayesha e Adam Warlock e o detentor da Enigma Force). 

No pico de popularidade da personagem após as histórias de Jim Starlin será possível o lançamento de um spin-off que teria como protagonista Carol Danvers, a.k.a Ms Marvel, em 1977. 
A personagem de Mar-Vell faria breves aparições fora das comics, nomeadamente em séries de animação (Avengers Earth's Mightiest Heroes e Super Hero Squad), jogos de vídeo (Marvel Ultimate Alliance e Marvel Heroes) e merchandise (figuras de acção e estatuetas).
Contudo, Mar-Vell não foi o único Captain Marvel da casa das ideias, mas antes o primeiro de muitos. 

É precisamente isso que veremos no post seguinte: O Legado de Mar-Vell!
Stay tunned!