Em 1958 o estúdio britânico da Hammer deu início à sua
epopeia de horror com o lançamento de Drácula. Dirigido por Terence Fisher, que
viria a realizar algumas das futuras sequelas da série, Dracula, reintitulado
de Horror of Dracula nos EUA (de forma a evitar confusão como filme de 1931, com
Bela Lugosi), vai dar-nos uns vislumbres de duas grandes estrelas do cinema de
horror. De quem falo? Do hipnótico Christopher Lee e do estóico Peter Cushing.
Ambos carregam nos ombros o peso do filme em questão, com as suas
interpretações das respectivas personagens. Lee dá-nos um Drácula diferente dos
vistos até agora. Quando fala, o que é raro durante a duração do filme, fá-lo
de forma autoritária e quase aristocrática. Quando está silencioso, a sua mera
presença invoca respeito e temor. Este é um Drácula cuja natureza selvagem está
bem patente. As outras personagens são meras presas para ele. Não existe todo
um drama romântico e trágico por detrás das suas acções, como no filme de 1992.
Por outro lado, o seu antagonista, o Doutor Van Helsing, de Cushing, raramente
perde a calma e, embora demonstre ter sentimentos, estes não são tão facilmente
discerníveis pelo espectador. Cushing mantem o seu dito estoicismo e
pragmatismo elevados ao máximo, na interpretação que dá ao nobre doutor. É ele
quem enfrenta, de frente, o perigo dos vampiros. Horror of Dracula assenta
nestas duas fortes personalidades e tem como campo de batalha as melancólicas
ruas da cidade romena de Klausenberg. A estória do filme, embora baseada no
romance de Bram Stoker, difere, e muito, do seu material de origem. Nesta
interpretação mais solta, o jovem Jonathan Harker desloca-se a um velho castelo
com o intuito de eliminar Drácula.
Ao falhar na sua tentativa, cabe ao amigo,
Van Hellsing, eliminar o vampiro da face da Terra. Pelo meio, a sede de
vingança de Drácula irá estender-se aos restantes membros da família Harker,
cujas mulheres, particularmente, o conde quer converter. Horror of Dracula tem
cenários bastante convincentes, desde a peculiar estalagem de aldeia, passando
pela mansão endinheirada da nobreza, até ao belo e requintado castelo do Conde.
Particularmente interessante é a queda lenta das folhas de Outono junto à
janela de Mina. Os cenários, junto com a música sinistra, ajudam a criar uma atmosfera
única na película. O filme, em si, avança a passo lento e é muito expositivo,
sendo que isso não deve ser visto como algo mau, muito pelo contrário. Isto
porque, o realizador sabe contrabalançar com a dose adequada de acção sempre
que é necessário. Por último, devo salientar que Horror of Dracula tem uma
quantidade bastante considerável de Gore para a altura. Embora seja irrisória,
pelos padrões actuais, foi um dos primeiros a tê-la, na época. No geral, e
embora prefira outras opções no género, a verdade é que Horror é um filme
bastante bem conseguido, sendo mesmo aplaudido por muitos como o melhor feito
acerca do Conde romeno.
Escrito por Ivo Silva
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