Admito que não tenho por hábito ver filmes portugueses no cinema. Na verdade, nunca tinha visto um, nos meus 29 anos cá na Terra, no grande ecrã. Vi muitos, sim, na televisão, mas, e perdoem-me se estiver a ser um pouco anti-nacionalista, nunca senti o particular desejo de pagar um bilhete para os ver. As razões, maioritariamente pessoais, assentavam sobretudo no facto dos filmes nacionais serem demasiado, e à falta de melhor expressão, desensabidos. Tudo mudou quando fui ver "A Gaiola Dourada", esta passada Terça-feira. Este filme conjunto de portugueses e franceses retrata bem a sociedade emigrante lusa e a sua integração na sociedade franca. "A Gaiola Dourada", vista já por um milhão de espectadores, na França, e rainha de audiências em Portugal, na sua semana de estreia, marca a estreia do realizador Rúben Alves e dá-nos a conhecer a vida da família de José Ribeiro (Joaquim de Almeida) e Maria Ribeiro (Rita Blanco). Com um humor muito característico e incisivo, o filme não se mostra envergonhado em gozar com aqueles aspectos que são tão característicos dos portugueses. Enquanto os filhos, mais letrados e sem um grande nível de afectividade com a pátria lusa, demonstram um à vontade e um vontade em se movimentarem como franceses, os pais têm a oportunidade de voltar a Portugal, via uma herança que lhes é atribuída. O humor do filme é contrabalançado com pequenas pitadas de drama, muito pessoal. Isto porque para Maria e José é difícil abandonarem a vida e relações que demoraram décadas a construir em França. Embora, não seja um filme representativo da actual crise, é uma perfeita montra daquilo que é uma comunidade portuguesa fora de Portugal, com todas as suas especificidades. "A Gaiola Dourada" é, de facto, um filme muito bem construído tanto do ponto de vista técnico, como narrativo e vende-nos, na perfeição, a realidade que procura representar. Movendo-se a bom ritmo, a estória da família Ribeiro nunca nos parece enfadonha e capta a atenção do até mais reticente dos espectadores. Um bom filme, que vem refutar a minha noção de que os portugueses são apenas bons nos palcos de Teatro. Espero que o vejam e que faça o mesmo para vocês, aquilo que fez para mim.




Escrito por Ivo Silva