Chove, copiosamente, sobre a estrada que conduz ao Reino da Lícia. Sobre as suas poças lamacentas caminha um jovem pesaroso. Pela sua mente vagueiam inúmeros pensamentos desagradáveis. O seu pensamento foca-se nos eventos que o trouxeram a este local. Anteriormente conhecido como Hipponnous, filho de Glaucus, perdeu o direito a ter esse nome quando, acidentalmente, empurrou um homem chamado Belero para a sua morte na cidade vizinha de Corinto. A partir desse fatídico dia passaria a ser conhecido, somente, como Belerofonte (que em grego significa “assassino de Belero”). Belerofonte foi forçado a abandonar a cidade de Corinto, onde nascera, para se salvar de uma execução que, embora fosse injusta, sabia ser certa. 
O corintiano pediu refúgio ao Rei Preto, o governante de Tirinte. Sabia, que, na qualidade de peregrino em busca de santuário, estaria a salvo da ameaça de morte que recaía sobre ele. No entanto, quis a má fortuna, de novo, o atingir. A Rainha Estebeneia, mulher de Preto, tentou seduzir Belerofonte pois estava perdida numa paixão insana que a assolou. Este recusou os avanços da monarca, não apenas por não se encontrar apaixonado por esta, mas também por ser um convidado na corte de Tirinte. A Rainha, todavia, não encarou tal rejeição de ânimo leve, muito pelo contrário. Decidiu, portanto, vingar-se daquele que com ela se recusara a partilhar o leito real. Correndo para os braços do seu marido, Estebeneia, de face tristonha e cabeça baixa, afirmou que Belerofonte a tentara violar. Belerofonte não acreditava no que lhe estava a acontecer. Novamente era acusado e desta vez por algo que nem sequer fizera. Novamente era julgado, de forma precipitada e condenado. De nada lhe valeram as súplicas. 
- Meu bom Rei de Tirinte, julgais que tentei seduzir vossa mulher, mas enganai-vos. Não seria capaz de tal acto. Haveis-me dado refúgio em vossa casa, como poderia ser eu capaz disso? – disse Belerofonte com uma voz segura de quem sabia estar inocente.
Contudo, tal apelo apenas teve o dom de enfurecer ainda mais o Rei. 
- Não só abusaste da minha hospitalidade e da minha mulher, como ainda insultas a minha inteligência com tais argumentos venenosos. Para as masmorras contigo. - Gritou o exaltado monarca.  
Dois guardas entraram, de imediato, na corte real e agarrando Belerofonte pelos braços, arrastaram-no para uma cela suja, repleta de musgo e excrementos. O corintiano pensou para si mesmo que agora seria, de facto, o fim. Estava condenado. Seria executado como um violador. Não havia fuga possível. Com estes pensamentos pessimistas, o jovem deixou-se adormecer num sono intranquilo. No dia seguinte, é desperto por água gelada que, um dos guardas atirou sem piedade para a sua face. O seu corpo está dorido, fruto de uma noite mal dormida. Mal se consegue levantar de tão enfraquecido que está. Na sua mente paira, agora, a imagem da forca. A morte o espera, não tem dúvidas disso. 

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